Escrito por Jussara Camata com texto de Natália Mestre
A medicina nos fatiou? Ou podemos definir saúde - emocional, mental, física e espiritual - como simplesmente saúde.
Em 1º de janeiro de 2022, a síndrome de Burnout foi classificada como doença ocupacional na legislação trabalhista, no grupo de transtornos mentais e do comportamento relacionados com o trabalho.
São vários os transtornos mentais e pensar que há pouco tempo isso era segredo e a nossa sociedade não falava abertamente sobre essas doenças e principalmente os seus sintomas.
Na tradução literal da língua inglesa, Burnout significa “queimar”, ou seja, algo que no sentido figurado para de funcionar por ter queimado com fogo, uma combustão completa. É a forma como a contemporaneidade trata as sensações de pressão em relação à produtividade no trabalho.
É preciso democratizar o assunto!
De acordo com as autoras Emily Nagoski e Amelia Nagoski no livro “ Burnout: O segredo para romper com o ciclo de estresse” a síndrome de Burnout é um distúrbio emocional causado pelo esgotamento físico e mental causado por condições de trabalho extremamente desgastantes e competitivas. Nagoski diz que o estresse é um ciclo biológico que precisa ser concluído antes que seu corpo possa retornar a um estado de relaxamento. Como controlar o “monitor” presente em nosso cérebro, que regula a frustração, e como lutar contra esse desgaste; porque descanso, conexão humana e redução da autocrítica são essenciais para a recuperação e prevenção do Burnout.
É sobre essa perspectiva que convidamos Natália Mestre, que é jornalista, especialista em branding e comunicação estratégica para marcas e pessoas e uma das apresentadoras do podcast F*** MyBrain, que propõe conversas e reflexões sobre saúde mental em episódios semanais. Natália nos conta sobre sua experiência pessoal nos convidando a não ignorarmos os sinais de Burnout.
“Burnout: muito além do cansaço ou da exaustão”
Era dezembro de 2019. Nunca vou me esquecer dessa quinta-feira em que entrei numa reunião com o cliente e não sei, até hoje, como saí dela. Mas antes de chegar ao fatídico dia, preciso dizer que vinha ignorando sinais claros de que não estava bem. Trabalhando além da conta, com insônia terrível, tinha desenvolvido uma reação nada saudável com o WhatsApp: sempre que recebia uma notificação de mensagem, meu corpo reagia com tremor e suor nas mãos. Era nítido que, pro meu corpo, toda mensagem significava estresse com cliente. Aos poucos, o tremor tomou conta das minhas pálpebras e se tornou constante. Dores de cabeça diárias, problemas intestinais... foi essa a Natália que entrou na reunião do dia 19, toda orgulhosa em apresentar os resultados de marketing impecáveis daquele ano.
Apresentação projetada na TV, todo mundo sentado me olhando, eu, de pé. De repente, senti minha visão ficando turva e um enjoo muito forte. Tento focar no conteúdo, mas sinto meu coração disparar e o corpo todo suando frio. Vou perdendo os sentidos... peço licença pra ir ao banheiro. Na época, meu marido, que era meu sócio na agência e estava comigo na reunião, foi atrás de mim, preocupado. Ouço a voz dele bem longe, sem entender uma palavra sequer... Percebo que o enjoo agora vem acompanhado de uma forte tontura, e apago. Se você me perguntar, até hoje não faço ideia de como voltamos. Só lembro de acordar na minha cama, no meu quarto, no apartamento onde morávamos.
Lembro dos meus pais chegando, em pânico. E o passo seguinte foi receber o diagnóstico de Síndrome de Burnout do meu médico. Eu até sabia o que era, pois tinha feito uma matéria sobre o tema pra revista Glamour, mas o termo estava longe de ser famoso como hoje.
Vale lembrar que a Síndrome de Burnout só foi reconhecida como doença ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2022. Hoje, somos 32 milhões de brasileiros diagnosticados com a doença, fazendo com que o Brasil ocupe o 2º lugar com mais casos de burnout, segundo um levantamento da International Stress Management Association (ISMA). Perdemos apenas para o Japão, que tem 70% da população adoecida.
A jornalista e uma das maiores vozes sobre Burnout no País, Izabella Camargo, explica a diferença entre a doença e um quadro de extremo cansaço. “Se você está cansado, você precisa descansar. Se você está exausto, você precisa mudar seu estilo de vida. A exaustão pode virar burnout diante de situações caracterizadas por assédio”. Depois de entrevistar mais de 400 pessoas diagnosticadas com a doença, ela concluiu que o denominador comum não é o excesso de trabalho, de responsabilidade ou de comprometimento, e sim o ambiente adoecedor em que estavam inseridos. No meu caso, eram alguns clientes que tive o prazer de demitir mais tarde, já com o tratamento da doença avançado (tive acompanhamento psiquiátrico e tomei remédio por mais de um ano).
A Izabella ainda diz que o Burnout nos causa um dano existencial e concordo com ela. Nunca mais fui a mesma Natália. Mudei meu estilo de vida, minha empresa, terminei um casamento de 12 anos, tive que me transformar por completo até chegar nessa versão que se coloca em prioridade, e que prioriza a sua saúde mental. Mas isso já é assunto pra outra conversa (no podcast da F*** MyBrain eu conto tudo, que tal ir lá conferir?).
Hoje eu só quero te pedir uma coisa: jamais ignore os sinais do seu corpo. Busque ajuda diante dos primeiros sintomas.”
Alguns livros e outros insights:
Ler: “Talvez você deva conversar com alguém: Uma terapeuta, o terapeuta dela e a vida de todos nós.” A autora best-seller e terapeuta Lori Gottlieb nos mostra que a resposta a essa pergunta traz revelações surpreendentes.
Ler: “Burnout: O segredo para romper com o ciclo de estresse.” Emily Nagoski, doutora em medicina comportamental e Amelia Nagoski, sobrevivente da síndrome de burnout, levam em consideração os obstáculos reais e as pressões sociais que prejudicam o bem-estar feminino.
Ler: “Aurora: O despertar da mulher exausta.” Acordar preocupada com as tarefas do dia. Otimizar a ida ao trabalho ouvindo notícias ou respondendo e-mails. Almoçar correndo pra ganhar tempo. E tudo isso sendo linda, bem-sucedida e gentil. Sorridente. Por: Marcela Ceribelli.
Podcast: “F*** MyBrain. O que você precisa saber sobre a síndrome de Burnout” - com Izabella Camargo e Natália Mestre. Clique aqui.
Podcast: “A loucura nossa de cada dia. Guia prático para ter um Burnout.” O psicanalista, Guilherme Facci, traz uma perspectiva histórica e embasamento científico, de forma bastante irônica. Clique aqui.
Teste: “Teste de Burnout Online: qual o seu risco?” A Rede D’or disponibiliza o teste de Burnout online é uma forma de avaliar o seu nível de esgotamento emocional, mental e físico que pode ocorrer devido a sobrecarga de trabalho, estresse crônico e falta de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Clique aqui.
Edição de Letícia Becker