O panorama de crise no varejo
Escrito por Cris Dorini e Jussara Camata
Quantas vezes anúncios da SHEIN apareceram na sua timeline nos últimos meses?
Polêmica entre os consumidores, despertando uma relação de amor e ódio, comprar com receio da taxação na alfandega ou jamais clicar no carrinho de compras do site chinês, mas porque custa tão barato? Tem qualidade? Anda meio globo para chegar aqui e ainda assim é mais barato? Qual a origem da matéria-prima? Atende o corpo gordo e dá acesso à moda rápida para todos os públicos satisfazendo os seus desejos de consumo numa velocidade nunca vista anteriormente na produção de moda.
Você chega a pensar em como fica a indústria brasileira que paga os impostos e emprega milhares de pessoas? Só se fala sobre isso no consumo do varejo de moda. Trazemos dados, números e índices para algumas reflexões.
Nos últimos 2 anos a SHEIN cresceu 300% e faturou R$ 8 bilhões de reais só no Brasil, segundo um relatório do BTG Pactual. A gigante que opera exclusivamente pela internet, é uma marca ultra fast fashion, que adiciona 6.000 produtos em seu catálogo diariamente e vende para 220 países. Sua cadeia produtiva é em pequena escala, baseada no sistema de inteligência artificial que produz um itens da moda com esquema de 50 até 100 que, se vendeu permanece, não vendeu imediatamente é descontinuado. São 200 designers e mais de 7.000 mil funcionários, os preços são baixos – R$ 58 reais em média.
Depois da indecisão do Governo sobre taxar ou não taxar a gigante asiática, a mesma declara que vai produzir no Brasil a partir de um investimento de R$ 750 milhões, divulgando estabelecer uma rede de parcerias com 2 mil fabricantes do setor têxtil nacional com previsão de 100 mil empregos gerados.
Nesse cenário, como fica o mercado brasileiro? Em crise!
Ao lado da Shein, o mercado brasileiro é demandado por AliExpress, Shopee e Amazon, empresas que vêm ampliando as suas atuações por aqui.
Segundo levantamento da Serasa Experian, pedidos de falência subiram 44% só nos três primeiros meses de 2023. A lista de empresas com dificuldades para pagar dívidas, buscando reestruturação financeira ou até proteção da Justiça, não para de crescer neste ano:
Americanas em recuperação judicial. Marisa em processo de reestruturação de dívidas e revisão do modelo de negócio. Centauro fechou 10 lojas físicas em janeiro. Com dívida de R$ 11 bilhões, a Light pede recuperação judicial. Essa “tempestade perfeita” — como alguns economistas têm se referido a essa fase de juro alto e consumo fraco — têm culminado em grandes prejuízos para a economia e para o consumo dos brasileiros.
Dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mostram que mais de 78% das famílias brasileiras tinham algum tipo de dívida (em atraso ou não) em abril. O percentual de inadimplentes foi de 29,1%.
O especialista Caio Camargo, em entrevista ao portal Metrópoles, explica que “as famílias não estão conseguindo pagar suas contas de subsistência. "Hoje, as pessoas têm que fazer escolhas, um verdadeiro malabarismo para se equilibrar”.
E essa é a maior realidade do nosso cenário, possuímos um mercado de consumo sensível que perde o poder de compra e reflete crises de tempos em tempos em uma constância muito maior que em países mais estáveis.
Ainda que a entrada de redes internacionais seja crescente, o setor ainda é dominado por varejistas locais, que estabeleceram marcas fortes com uma ampla compreensão do mercado e dos hábitos de consumo dos brasileiros.
No início da pandemia, houve uma larga oferta de crédito corporativo e flexibilidade de governo e bancos para renegociação, adiando um problema precipitado agora pela escalada dos juros.
Foi uma ação necessária naquele momento, porém a taxa básica definida pelo Banco Central (BC), disparou de 2% no início de 2021 para 13,75% em agosto de 2022 e lá se mantém.
A morosa retomada do consumo, afetado pela inflação e pela perda de renda da população — que também está muito endividada — são fatores adicionais para não vermos a retomada de vendas na proporção necessária para gerar o caixa que as empresas precisam nesse momento.
Ao lado das grandes empresas estrangeiras e dos reflexos da diminuição de crédito, cada companhia tem seus problemas específicos e que na atual conjuntura foram aguçados. No varejo de moda e decoração, por exemplo, parte da crise é consequência de falhas na gestão das empresas.
A Renner fechou 20 lojas, quatro da própria marca, 13 da Camicado e três da YouCom. Em um comunicado em que explicava seus motivos, a companhia assumiu que decisões ruins da direção e um erro de estratégia prejudicaram os negócios.
O que esperar daqui para frente?
Sabemos que a economia tem um padrão cíclico, há anos o Brasil sofre com os altos e baixos, sendo os momentos de dificuldade mais frequentes do que os de aceleração e crescimento.
O setor varejista, devido à sua proximidade com o consumidor, pode ser considerado um termômetro do consumo, da demanda e da economia.
O Governo têm criado meios para alavancar a economia. O reajuste do salário mínimo em 2023 foi de 8,9%, cobrindo a inflação de 5,81%, com um aumento real de 3,1%. Além disso, o Governo Federal lançou o Desenrola Brasil, uma iniciativa para ajudar na quitação de dívidas da população e, assim, reduzir os índices de endividamento no país.
Nesse panorama recordamos do anúncio da vinda da H&M para o Brasil no próximo ano e da percepção de que momentos de crise nos abrem para novas formas de se fazer negócio e para novas oportunidades a partir disso.
Alguns livros e outros insights:
Ouvir: No podcast , Reset Podcast, A crise no varejo de moda traz uma análise de mercado e indústria sobre a crise atual do varejo de moda clique aqui.
Ler: A Biblía do Varejo, Constant Berkhout, fala sobre estratégias que contribuem para o crescimento do negócio em meio a crise.
Ler: Rebeldes têm asas, Rony Meisler, fala sobre a trajetória de uma empresa, Reserva, e relata qual a mentalidade por trás de cada lançamento e suas estratégias de marca.
Assistir: Na série Halston, a história de ascensão e queda do famoso estilista americano, Roy Halston Frowick, o homem "que mudou a moda da América para sempre”.
Para acompanhar: Perfis que falam sobre mercado de consumo e tendências de comportamento WSGN Brasil, Mercado & consumo, André Carvalhal comportamento e sustentabilidade.
Fique atento:
Se você assinou a News da Trio e não estiver recebendo, lembre-se de checar sua caixa de spam.
Os nossos artigos também estão disponíveis em nosso site.
Obrigada por estar nessa roda de conversa com a gente, se você gostou dessa edição nos ajude a construir essa comunidade clicando no botão abaixo ou compartilhe e nos marque pelo instagram Trio Inteligência em Imagem. E para quem estava presencialmente na roda fique a vontade para entrar e deixar seu comentário.