Brasilidades
Escrito por Jussara Camata com texto de Mariana Lopes
Nós somos algodão, biquíni e Adriana Varejão.
Lá das Minas Gerais, Inhotim, um dos maiores museus de arte contemporânea a céu aberto do mundo. Dos ares de Santos Dumont à brasilidade da carioca Anitta. Desfilando com a Gisele diretamente do Rio Grande do Sul para todas as semanas de moda.
Entre o concreto e as curvas em formas arredondadas, Oscar Niemeyer fez história e deixou um legado de mais de 600 obras no Brasil e no mundo. Da Bahia de Caetano e Gil, o MPB, o axé de Ivete e o rock de Pitty. Nós somos tantos.
Com o olhar único em preto e branco, Sebastião Salgado é famoso por fotografar em vários continentes. E o que falar dos muros e painéis coloridos do Kobra? São as brasilidades, cores, artes e culturas plurais que fazem nossa tropicalidade, uma mistura que só o Brasil tem.
Um pouco do todo que temos por aqui, Carmem Miranda, Ayrton Senna, Os Gêmeos, Flávia Junqueira e Elba Ramalho. E crescemos cada vez mais - da artista Tarsila do Amaral que contribuiu para que o brasileiro começasse a valorizar o que é daqui, aos tantos artistas e coletivos de artistas que ajudam hoje a desenhar uma nova estética para a arte brasileira, mais diversa e real, como Maxwell Alexandre e Movimento MAHKU.
Para ampliarmos essa perspectiva grandiosa de como vemos o Brasil, esse país que inspira inúmeras qualidades, convidamos a Mariana Lopes, que é Consultora de Imagem Pessoal e estudiosa na moda para complementar com seu ponto de vista.
“O Brazil não conhece o Brasil
O Brazil nunca foi ao Brasil...”
E eu começo este texto com este trecho da música de Aldir Blanc que ouvi tantas vezes na sala de casa na voz de Elis Regina. E não existe verdade mais clichê e dura do que esta. Foi no fim do mês de agosto deste ano que a Vogue França lançou em seu site uma matéria sobre o Brasilcore apontado como uma das grandes tendências de moda do momento.
Mas, vamos combina? O chinelo Havaiana, e a camiseta da seleção não é tendência para O Brasil, já é parte de um “uniforme”. De um lugar que temos uma certa dificuldade em olhar com bons olhos mas, que é tão rico e cheio de personalidade quanto qualquer matéria de revista de moda: a nossa própria cultura. Infelizmente por vezes demoramos a valorizar.
No Brasil real que acontece longe dos centros de luxo das grandes capitais, aquele Brasil mais periférico, ali já usam o brasilcore e os símbolos nacionais como narrativa de sua personalidade tem muito tempo. Exibem com orgulho a camiseta da seleção, criam seus códigos de luxos a partir de sua realidade. E talvez, aí nesta falta de visão fora da bolha da moda more a grande gafe dos veículos especializados terem demorado tanto para valorizar a nossa própria identidade e presumir que só agora, em 2023, ela venha a ser uma tendência.
Precisamos visitar mais o Brasil para entender o luxo da nossa cultura. Aliás, quem viu o último desfile da Lenny Niemeyer percebeu o quanto a palha de buriti, tipicamente nordestina, em mãos sensíveis e criativas, podem se tornar objetos sofisticados e vanguardistas, que carregam em seu cerne nossa ancestralidade e com ela a nossa exclusividade.
Podemos até valorizar mais a moda internacional, mas jamais nosso styling se comporta tal qual lá. Sempre damos um jeito de inserir uma identidade nossa. Inclusive, com exemplos desde o Brasil Império. Neste período toda a moda era trazida da Europa, nada se produzia ou criava aqui. Mas, foi no convívio entre senhoras de elite e suas escravas que os balangandãs e adornos de flores e insetos transformavam os vestidos europeus a partir de um styling único, tipicamente brasileiro. Era uma moda europeizada, mas aplicada ao nosso cotidiano, ganhava ares tropicais.
Então por que será que sempre demoramos tanto para reconhecer este talento e que é preciso sempre um veículo ou personalidade de fora para dizer que o que temos aqui é legal? E por que quando o óbvio da nossa cultura se apresenta em forma de design vendido como luxo tentamos diminuir o valor daquilo que é nosso? Em mim, fica sempre o desejo que esta realidade mude e que possamos cada vez mais ter em nossa lista de desejos os grandes designers nacionais. Um salve as novas marcas como Dendezeiro, Misci, Isaac Silva, Marina Bitu e tantos outros que trazem a simplicidade do cotidiano da nossa cultura nacional."
Alguns livros e outros insights:
Ler: “O Biquíni Made in Brazil". A jornalista Lilian Pacce, considerada uma das mais importantes profissionais de moda do mundo, que, além de contar toda a trajetória da peça, valoriza a relação dos brasileiros com o traje, as mudanças de costumes e hábitos ao longo dessas décadas, além de pontuar os principais fatos numa didática linha do tempo.
Exposição: “TARSILA, A BRASILEIRA” de Quinta, Sexta, Sábado e Domingo às 20h00, Sábado e Domingo às 16h00 de 25 de Janeiro a 18 de Fevereiro de 2024. Teatro Santander - Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, 2041, São Paulo - SP
Fábrica de Dengo: Um espaço lúdico, lotado de gostosuras e onde é possível personalizar sua própria barra de chocolate, oferece um restaurante com espaço aberto no rooftop, sorveteria e café. espaço que engloba gastronomia, cultura e entretenimento. A Av. Brigadeiro Faria Lima, na altura do bairro de Pinheiros, foi o local escolhido para a primeira – loja conceito da marca de chocolates Dengo com quatro pavimentos – todo de madeira, e 1500 m² de área construída. clique aqui.
Restaurantes: A Casa do Porco, Balaio IMS, Cora, Esther Rooftop, Restaurante Emma, Rubaiyat
Assistir: “Brasil Visto de Cima”. Em um emocionante voo pelo Brasil, podemos fazer reflexões sobre encantos, belezas, curiosidades e contradições de um país imenso e cheio de surpresas. clique aqui
Edição de Letícia Becker